Eras a voz para todos os meus sonhos. A chave para qualquer problema. O raio luminoso que me fazia acordar e levantar a cada dia. Eras a fantasia que me orgulhava de possuir. Toda a cor de que queria pintar a minha vida. Eras o meu único porto, o meu único pouso, a minha única vida. Eras toda e qualquer nuvem de tranquilidade que pousava no meu céu, o único astro no meu universo e o único sol existente no meu horizonte. Eras o papel onde queria escrever toda a minha vida. A voz singular que queria que cantasse para mim, para sempre.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

És a voz para todos os meus sonhos


Quero todas as tentativas e jogadas que me pertencem, quero-as para mudar o presente, e vir a ganhar este jogo no futuro.
Quero todas as corridas que desperdicei, para me tentar mais uma vez a fugir de ti sem olhar para trás.
Quero cada segundo, cada grão de areia, cada flor, cada cor, cada arrepio, cada respirar, cada gargalhada de volta.
Quero todas as danças que recusei, todos os “amo-te” que ficaram por dizer, todas as estrelas que sonhamos juntos vir a chamar de nossas.
Quero cada lágrima de volta, cada grito, cada “adeus”, cada amasso, cada carícia, cada beijo, cada “não te quero perder, para ninguém, nem mesmo para a vida ou para o tempo!”.
Quero-te a ti. Quero-me a mim. Quero quem fui, para voltar a ser alguém.
Recuso-me a possuir este vazio e infelicidade, e até o vento o poderia levar para longe de mim ou a chuva poderia lava-los da minha alma.
Quero muito mais que um passado, quero o presente e o futuro. Quero a vida que me davas e o sorriso que me entregaste. Quero a tua mão, a tua respiração, a tua pele, a tua voz e todos os caminhos que percorremos em conversas que não queria que tivessem fim.
Quero a tua constante presença nesta estrada. Quero de novo acreditar no “Para Sempre” que havia sido prometido e, outrora, quebrado.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

Atrás do que se vê com o olhar



E quando achava que todos os rios derivavam num mar, que todos os sonhos dariam a uma realidade, que todas as nuvens conduziriam a uma tempestade, ou que todos os caminhos me levariam a ti, ao teu cheiro, à tua respiração, sobre mim desenrolou-se uma gelada cortina de águas divinas, ordenando-me com gritos trovejantes e rajadas de vento angustiantes, que meu pensamento abrisse que, na realidade, em cada guerra muito mais que suor se perdia, que vidas eram ceifadas, sonhos liquidados e esperanças arrancadas. Que em noites, muito mais que luares podiam ser vistos e revistos no céu, que em cada olhar, muito mais que uma vida podia ser descoberta, que em cada abraço muito mais que um amor podia ser encontrado, que em cada caminhar, muito além de um novo rumo se tomava. Que uma vida, estava presente em cada respirar, em cada passo, em cada pestanejar, em cada lágrima, em cada grito, em cada erguer após uma desilusão, em cada bater cardíaco, em cada fantasia infantil que possuíamos.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

Á deriva


Toda a minha vida havia navegado numa maré que a mim não pertencia. Tudo o que buscava era um porto em que pudesse atracar minha alma, para saborear cada pôr-do-sol tal qual devem ser deliciados. Porém, ventos e correntes balançavam meu barco que, neste bailado, muitas vezes de virar esteve perto. E, quando nalgum porto me albergava, mais outra viagem tinha de começar em seguida.
Afinal, só o mar turbulento feito de lágrimas minhas, nunca me desiludira. De facto, nunca ninguém, senão meu próprio veleiro, havia sido minha casa.
Sobrevivia na vida, apenas para aprender a viver.
Sobrevivia neste oceano, apenas por ter certeza que, melhor que qualquer ilusão e desilusão terrenas, só a estadia neste mar longínquo de terra.
Longínquo de ti.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

Hoje, nao


Em qualquer outro tempo, em qualquer outro lugar, em qualquer anoitecer que não este, render-me-ia à verdade, admitindo que como bolhas de sabão, assim se eclipsou toda a minha essência. Que nem as chamas das velas chegam para iluminar o meu caminho agora apagado. Que nem o vento basta para me fazer mover. Que nem os sonhos são suficientes para querer acordar e refazer a realidade quebrada.
Perdi-te. E tudo o que havia feito sentido, assim como eu, também se perdeu.
Agarro-me aos “nadas “ e corro atrás dos “tudo” que com gargalhadas de criança, de mim fogem como que brincando comigo. E todas as coisas simples que um dia considerei amar, hoje nada me dizem, e pouco lhes digo eu. Todas as ruas que julguei admirar e todas as pedras da calçada que julguei percorrer, perdem-se do meu olhar vazio e distanciam-se do meu estado parado. Todos os céus e estrelas a que em noites sem fim, jurei e prometi por vidas, nunca deixar de desejar possuir, esta noite perdem todo o entusiasmo e curiosidade conquistados em tempos passados.
Em qualquer outro abraço, em qualquer outro embalar, em qualquer outro sorriso, denunciaria e rogaria para que regressasses, trazendo de volta tudo quanto levaste. Em qualquer outra passada, em qualquer outro beijo, outra carícia, em qualquer outro olhar, me despediria novamente com lágrimas.
Em qualquer outro dia…em qualquer outra vida…outra que não esta.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo
(foto- Pombal, Carrazeda De Ansiães, Trás-os-Montes)

As estrelas so têm significado quando, enquanto crianças, sonhamos !

Toda a infância é esquecida, todas as verdades das histórias de cavaleiros triunfantes desvendadas. Cansei-me de toda a vida que havia entregue a um jogo de “bem-me-quer, mal-me-quer”, a um lançamento de dados numa mesa vazia ou ao rolar dos grãos de areia da ampulheta do tempo. Peguei em mim, reuni todos os pedaços, todas as parcelas que havia distribuído por meio mundo, deitei por terra todas as esperanças, os sonhos, as fantasias de felicidade, as loucuras cometidas e os amores falhados. Obriguei meu olhar a erguer e perscrutar o caminho, mandei minhas pernas caminhar e meus braços soltar, baloiçando-os livremente, sentindo tudo como se pela primeira vez fosse. Um sorriso se rasgou na minha cara, e todas as lágrimas se limparam. Calei o grito silencioso prisioneiro do meu peito e fiz o coração voltar a bater. Acreditei então, que nunca havia sido tão feliz. Por fim, reparei que afinal voltara a ser a menina que um dia fiz desaparecer. Afinal, bastava Fechar os olhos, abrir o sorriso às pequenas coisas, cantar para afastar os pesadelos, correr em busca dos sonhos e, de novo voltava a ser criança. Voltava tudo a ser genuíno. Era como se nunca nenhum céu estivesse alguma vez acima da minha cabeça, como se nenhum pôr-do-sol alguma vez tivesse cruzado o meu horizonte, como se nunca nenhuma onda tivesse deixado o rasto fresco, leve e suave de espuma que sempre deixou.
E até o prado que havia desenhado como escuro, sem vida, tão misterioso que quase era assustador, se revelava agora, no lugar onde todas as cores, cheiros e brilhos do mundo se haviam encontrado, para formar a mais harmoniosa tela natural. Onde nem o sopro do vento que segredava ao pasto rastejante, ao alfazema ou ao alecrim segredos de gente há muito feliz, poderiam alguma vez, ser retratados por alguém que humano fosse.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...