Mais uma vez, aqui estou à tua espera, encostada à velha parede que me suporta os pensamentos, e quantos ela contaria se uma voz lhe fosse dada. Enquanto não chegas, fecho os olhos e repito o ritual de tantas tardes, sobre a luz de fim de dia, perdendo-me facilmente em poucos segundos. Conforme se desenham na minha cabeça todos os momentos, surge no rosto o sorriso, aquele que vai aumentando e aumentando enquanto segundos se transformam nas tantas horas que já se passaram. Este corpo que tantas vezes do sofrimento foi escravo, relaxa e descansa agora sem quaisquer algemas psicológicas. E todas as tempestades, os trovões de preocupações que por vezes se desenham nos nossos rostos, ou as lágrimas tão chuvosas quanto tempestades tropicais, as que escapavam dos olhos e da alma, assombram-me a cara por momentos. Venham então todos os prados de verde vivo de gargalhadas e cheiros a jasmim, venham os areais das praias de abraços que demos, que venha a brisa nocturna de verão dos beijos a que tantas vezes nos entregamos. Que venha tudo, que de tantos anos de conhecimento, muita coisa há para recordar.
Abro sorrateiramente apenas um dos olhos agora que oiço passos, mas, como sempre, ainda me restam mais uns segundos, podendo me entregar a este vicio por mais uns instantes. Debato-me como será o teu sorriso hoje, se tão perfeito quanto o de ontem, ou o teu olhar mais abatido que o de amanhã. E finalmente mãos me circundam e tomam para si, fazendo-me acordar do sonho sabor a algodão doce que tenho vindo a rever, e o calor dos teus lábios me acorda. O papel e a caneta são metidos de novo na mochila, terão de esperar por amanhã, terão de esperar pela próxima espera.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo
Não é por desconfiança que rasgo todos os trapos da minha consciência mais que mil vezes por dia, é por insegurança de principiante, por medo de criança assustada, por cautela a algo que nunca antes se cruzou no meu caminho, é por ciúme de muito amar e só bem querer. É por não acreditar nos ventos que me sussurram ao ouvido que és meu, e por não ter certeza se sou só um ponto no Mundo, ou se um Mundo num ponto. É por ter no olhar brilhos de múltiplas cores e em cada batimento cardíaco a palavra “Amo-te”. É por ser isto um tudo que diariamente se transforma em nadas, sempre que a minha natureza é testada.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...