Entrego-me ao mar como um pardal recém nascido se entrega ao vento, à vida e à sorte no seu primeiro voo .
Entrego-me à luz para que todos os fantasmas se escondam de uma vez .
Entrego-me a ti uma e outra vez para que todos os meus pesadelos saibam que nem uma única vez tiveram motivo para existirem, para que estes embalem suas coisas e corram o mais depressa possível para longe das amarras da minha imaginação .
E neste enredo de entregas, perco-me a mim e ao equilíbrio por entre os bosques da minha consciência oiço gritos mudos e luzes cegas de qualquer raio luminoso . Busco-me uma e outra vez e apenas encontro um cadáver vivo em frente ao espelho num quarto de paredes brancas . Chamo por ti em desespero e apenas as pontas dos teus dedos quentes como uma chávena de chá numa tarde chuvosa de Dezembro me recordam que o eco da minha voz na minha cabeça não é imaginação, estou viva e nas próximas horas serei o ser mais feliz de toda a galáxia .

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...