E se as correntes não me tivessem trazido a portos mais afortunados, diria que te esqueci.
Não desprendi de mim todas as tardes chuvosas, os beijos, as declarações de amor, os sonhos e as negações contraditórias, não apaguei de minha consciência a amargura da saudade nem o ardor do paladar do arrependimento. Aprendi a caminhar em pontas e a saltitar de pensamento em pensamento, a esconder-me daqueles que te traziam de volta, e a cantar para os que me elevavam sorrisos no rosto. Fui discípula disciplinada e obediente ao ensinamento do meu fado e crente sem crenças quando colocada em descrédito. Fiz-me guerreira e lutadora por dois segundos de vida e entreguei-me a esse fardo o resto da minha existência.

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...