E quem nunca quis paixão cega e cheiro a ciúme inscritos na pele ? Quem nunca quis mais um rasgar de roupas, ou um beijo apertado ? Apenas quem nunca viveu para amar, para sentir o veneno da paixão a correr fervorosamente pelas veias, quem nunca ouviu seu nome sussurrado ao ouvido, quem não se abstraiu da passividade de ter alguém, não se entrega ingenuamente aos instintos. Quando todos os reencontros são descargas eléctricas no organismo, quando todas as despedidas são beijos carregados de singelos "até logo", correm pelo pensamento anseios de que fossem repetidos "não permitirei que vás já" de quem nem numa eternidade conseguiria matar todas as saudades do perfume e toque do amante. E seria tudo o que precisaria de ouvir, o que me levaria ficar, só para ter mais uns instantes de egoísmo e amor próprio ..
Faz se então altura de calar o sopro de recordações que assalta e esfria meu corpo. Corrente de momentos felizes que me faz correr os caminhos mais escuros que algum dia foram conhecidos. Quão tenebrosas se tornam elas, quando a cor se apaga, o sentimento se desvanece, as melodias se calam e todos os turbilhões, não deixando de ser partículas espalhadas.
Cada grão de terra que piso e se move por acção ao peso do meu andar, conta o segredo de uma vida, e as gotas de água que têm vindo a colar se à minha pele, a cada passo que dou, cantam o ciclo da vivência de outrem, os detalhes de uma nuvem que existiu um dia por cima de mim, ou de um chão que sempre sonhei pisar.
Mudanças sempre aconteceram, e evolução não é sempre sinonimo de felicidade, quando todos os barulhos e cheiros da infância são deixados para trás, quando todos os beijos ingenuamente doces da adolescência deixam de ter espaço no ADN de cada um, quando os finais de tarde se desvanecem no vento, é a minha história que aguarda por mais uma folha branca e a minha voz por outro sonho.

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...