Saía dos sonhos saltitando e dos pensamentos cambaleando tal como saí da realidade para me entregar ao fantasiado. Cruzo os braços diante do corpo e permaneço especada perante a cor do ar. Já lá vai o tempo em que fugi demasiadas vezes do medo para correr lado a lado com a segurança; ou os tempos em que desdenhava a sorte, desenhava sonhos, encontrava tesouros a cada fim de um arco-íris e em que me entregava ao vento, ao mar, à chuva, ao sol, a pessoas e a coisas sempre conseguindo voltar a mim intacta.
Por perdão supliquei tantas e demasiadas vezes aos deuses quando sobre mim trovejaram consequências divinas e rios de azar negro. Por sonhar, ver e não olhar, falhar e não sentir pesar, quebrei-me a mim e ao mundo em mil pedaços e demorei vidas e a noites a reconstruir o puzzle que havia atirado para o chão com desprezo. Vivi quem fui, e apenas desejava ter ainda réstia dessa saqueada essência imaculada de menina presente a cada sorriso. Nos olhos transporto o que vi, na voz o pesar de tudo o que já disse, na alma o que já fui e no corpo todas as entregas que já cometi e todos os sonhos que me esbofetearam.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...