Decai o sol, decresce o ruído do mundo taciturno e, mais uma vez, a Lua é chamada para mais um turno. E tudo o que questionava era se seriamos capazes de entregar nossas vidas ao vento, tal qual entregamos às estrelas em noites de conversas longas e olhares demorados. E se de frutos proibidos, amores impossíveis e olhares censurados arriscamos para viver, que raios de luz e tilintares tão cheios de significados são os que vejo nos teus olhos. A ingenuidade pode tapar-nos a vista quando perto um do outro não estamos, quando o quente corporal não se sente à distância de centímetros, quando a respiração não é perceptível na atmosfera que partilhamos, mas nada nos engana quando do toque surgem sorrisos, dos sorrisos gargalhadas e destas, ficares mais prolongados. E trocaria mil experiencias de vida que já em mim estão inscritas, por mais uns instantes a teu lado, por mais uns momentos de partilha nem que seja do silencio que por vezes se instala docemente entre nós, silencio que do ruído nulo, grita a plenos pulmões que algo começa a todos os finais de tarde.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

E como se de tentativas fosses feito, tentas-te, resististe, e lutaste contra a tua vontade, mas à tentação do meu olhar cedes-te, rasgaste-me as roupas e os preconceitos, murmuraste palavras doces e segredas-te silenciosamente o poema da paixão que te consumia. E de melodias eram feitos os teus suspiros. Buscas-te ar e as minhas mãos, e encontras-te muito mais que uma amante. Percorres-te entre beijos cada milímetro do meu corpo e da minha alma como se lhes conhecesses todos os cantos, implorando ingenuamente que te largasse, que não te cativasse desse jeito com o meu toque e, simultaneamente, irradiavas com o olhar ordens expressas para que nem por um segundo te soltasse.
E quantos mais segundos nos fossem dados, mais anos passaríamos viciados em nós e nas crianças adultas que juntos somos.
Tua voz de veludo e a tua respiração ofegante já de mim fazem parte, e o teu toque de fogo e beijo de perdição por meu corpo estão inscritos. O relógio pára e os ponteiros calam sua canção e escondem-se com sorrisinhos. E posso não ter vivido centenas de anos, ou viajado por entre mundos, vidas, momentos e segredos, mas faço juras a mim própria de que nunca vi olhos cor-de-felicidade tão maravilhosos quanto os que sobre mim lançam cortina de desejo, nem braços tão seguros quanto os que me sustêm, me agarram e amassam como se o seu proprietário tivesse esperado milénios para me encontrar.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...