E essas gotas de orvalho humano, as que tantas vezes têm inicio na alma ou no vazio do peito, escorrem cara abaixo lentamente, passando pelos olhos que meio mundo já viram e milhares de pessoas já examinaram, ganhando caminho a cada passo que efectuam no rosto, estrada da vida, onde já habitaram sorrisos apaixonados, gargalhadas incontroláveis, a frieza de uma estátua de pedra ou mesmo a felicidade de uma criança, correm como rios por entre as montanhas rosadas da face e encostam-se aos lábios que tantas vezes se entregaram a beijos e pecados e o sabor salgado a tristeza e ódio de gritar de quem ar nos pulmões não tem, nem para respirar, arde na língua. Perdem-se por fim na imensidão da pele. Chegando ao fim do percurso, apenas humedecem os poros desta estrada velha e voltam novamente a entrar dentro de mim.


Uma Rapariga Esquecida Do Mundo


E não fosses tu a chuva que todos os Invernos me lança manto gelado, abraçando-me quando o dia escurecido pelas nuvens está. Não fosses tu a brisa que remexe nos meus fios de cabelo parados e o meu olhar vago. Não fosses tu toda e qualquer cor que possuo e sonhos que quero colorir. Não fosse tua mão o único impulso que preciso para caminhar, teu beijo o porto de abrigo para a minha alma há muito sem sitio para viver, teu abraço a minha única casa. Não fosses tu que transportasses dentro de ti o sorriso e a filosofia de uma criança, ou as crenças e determinações de um adulto. Não fosses tu um eu, e eu um tu, que quando juntos formam um só. Não fosses tu o Sol com que me levanto a cada dia, e a Lua que me faz companhia até adormecer. Não fosses tu, todas as recordações felizes e as lágrimas mais tristes que a mim me pertenceram. Não fosses tu um tudo que eu seria novamente um nada na tua ausência.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

Minha cor de arco-iris


Gastei demasiadas folhas de papel, dias, noites e sonhos a tentar modificar o que por tantas vezes me calhou na sorte dos dados. E após esgotadas todas as tentativas e percorridas todas as estradas da razão, percebi que não se podem retirar os sonhos a quem sempre correu livremente pelos caminhos mais fantasiados, não se pode pedir por brilhos a quem nunca reflectiu cor, nem segurança a quem sempre viveu no contra-balanço da vida, tal como ao sol não se pode exigir que deixe de iluminar todas as criaturas a cada dia que começa.
A tua fotografia rasgada e dispersa em pedaços pelo chão ou o teu perfume refém da minha roupa e memória, fazem me prisioneira das recordações, prendendo-me tal qual cadeados ao passado. Lanço- lhes um olhar e revejo o beijo quente e as mãos frias tão presentes em mim, e escorregam pelos olhos rios de felicidade morta, paixão feita refém das recordações e das palavras que me faziam esboçar sorrisos e descem então as lágrimas.
Só contigo as gotas do orvalho que encontro nas pétalas da vida a cada manhã, têm brilho e frescura. Apenas contigo cada arco-íris ganha sonhos e esperanças a cada cor. E até a estrada mais longa, o deserto mais seco ou a neve mais espessa parecem mais fáceis de atravessar.


Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...