Amar


E amar é, se não outra coisa, correr o risco de conhecer a felicidade, entregar-lhe a vida, e perder-se na sua adorável busca pelo desconhecido. É colorir o mundo, quando na paleta só dispõe de preto e branco; é inventar sopros, brilhos e tilintares nos silêncios mais escuros. Passa por sorrir enquanto sozinhos quando o pensamento voa para bem longe, e entregar a alma mais do que uma vez, em cada beijo, em cada aperto de mão, enquanto a dois.
É respirar aragens puras numa sala onde nenhum ar limpo há para respirar; é ter no olhar a cintilação de cada raio de luz, na boca e na voz a frescura de cada primavera e, no coração, o brilho de cada tesouro descoberto em cada final de arco-íris.
É não ser nada sozinho, mas ser tudo quando com o outro.
Amar é uma aventura de montanha-russa e tem um sabor de algodão doce incontestável. É algo indiscutível, sem repetição, e desigual em todas as vezes que acontece. E, quem de amor muito fala, é porque de amar já não peca; é porque sua vida resgatou à felicidade, onde um dia por suas ruas a levou a passear.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

Largar a nossa vida

Que me seja dada a vontade de fugir, e largarei tudo numa corrida solitária contra a memória.
Que me seja entregue um coração, e de novo me faço viva, busco novos ares e inspiro felicidade.
Que me devolvam a alma, e, se de sede de amor não me matarem, partirei para conquistar este e os outros mundos, esquecerei esses olhos sorridentes cor de felicidade que me faziam acalmar, esses lábios, meu único caminho para casa, esse respirar, dono de sonhos que em tardes te contei possuir. Descarto todos os abraços que de ti roubava, como que querendo provar que tudo de fantasiado não se tratava, e entrego ao vento todas as recordações deliciosas da doçura do teu beijo.
Que saqueadas todas as imagens sejam, que, se vontade ainda tiver, partirei de novo em busca do olhar pôr-do-sol que encontrei um dia, dos lábios sabor a chuva que provei, dos braços ternos e quentes de fogueira humana que um dia me sustiveram.
E, se de onde estou não me mexer, é porque a estrada de promessas e juras que desejava voltar a percorrer amedrontou e furtou minha coragem, ou porque a meu lado te permitiste a voltar a sonhar estar.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo
Já viajei por milhares de pensamentos alheios. Já atraquei meu corpo em centenas de abraços. Já entreguei minha alma em dezenas de beijos. Já percorri o mundo por caminhos sem direcção e voltei a percorrer só para ter certeza do que alguma vez procurara. Em teus pensamentos, em teus braços, em teus lábios, é onde pertenço, e onde minha residência quero fixar. É o único sítio de onde nunca deveria de si ter desistido para o tempo; o único de que nunca esquecerei qualquer lembrança.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

Daria mais que uma vida por uma realidade diferente. Daria o corpo e até a alma a quem em troca outra vida me oferecesse. Bastaria uma mentira ou uma ilusão, e tão fácil se torna enganar-me a mim própria.
Busco facilidade e conforto, tal como a facilidade de dizer que feliz fui, ou o conforto de puder dizer que em teus ramos me encontro.
E de braços abertos e sorriso no rosto receberia tamanha ilusão, a única, que me levaria a apagar de minha cara sorrisos que ao pensar em ti se desenham, a limpar as lágrimas que tantas vezes por desenganos escaparam, a roubar a desilusão de ter pensado possuir valor.
Já tentei encontrar tal mentira algures na minha imaginação e com ela, rasgar a realidade como se punhal fosse. Porem, como que por teimosia, nunca nenhum efeito sortiu.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...