Não fosse o céu escuro a esta hora do dia, que nunca teria deixado teus braços escorregarem para longe do meu corpo inerte perante o deleite e a frieza das despedidas. Perante as estrelas, as que se encontram agora acima de todos os demais, neste chão vazio da tua presença, deito meus pensamentos sobre a atmosfera de recordações insanas, tantas que saturam o ar e dificultam a ventilação pulmonar, congelando os membros e parando o trânsito capilar. Sobe a alma aos céus, mas o corpo fica preso às amarras humanas de quem roga a todas as divindades para sentir de novo a respiração que era a minha melodia para o sono profundo ou o olhar que criava todas as certezas acima das teorias. Que regressem as tardes de palavras subentendidas, os abraços debaixo das mantas de sonhos no quarto de fantasias que era nosso refúgio e cumplice em tantas declarações. Que voltem de novo a ternura de quem sabe o valor dos anos e a doçura do sabor da pele do que um dia foi a peça em falta do puzzle incompleto.
Debaixo das luzes de uma cidade nova, crescem sombras nas paredes e monstros nas almas, percorrendo as ruas dos pensamentos como gatos vadios, entregam-se a cada esquina e a cada porta, na esperança que alguém solitário lhes estenda a mão e entregue um pedaço duro de pão. Com a corrente diminuição da luz natural, aumentam de volume os devaneios humanos de quem mesmo longe, continua amarrada aos pensamentos dos que ficaram de onde nunca eu deveria ter saído. Os sonhos e as esperanças ficaram sem cor no dia da despedida e mesmo a melancolia se escondeu debaixo dos lençois, nesse dia carregado de nuvens escuras no céu da vida. Ficaram promessas de retorno, pendentes nos sorrisos e latejantes nos rios oculares de quem se despedia.. ficaram palavras, fotografias e recordações na memória de quem foi e juras de amor eterno nas palavras gritadas ao vento, de quem ficou. Foi lançada a sorte ao vento e esperou se que ela voltasse.

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...