Hoje, nao


Em qualquer outro tempo, em qualquer outro lugar, em qualquer anoitecer que não este, render-me-ia à verdade, admitindo que como bolhas de sabão, assim se eclipsou toda a minha essência. Que nem as chamas das velas chegam para iluminar o meu caminho agora apagado. Que nem o vento basta para me fazer mover. Que nem os sonhos são suficientes para querer acordar e refazer a realidade quebrada.
Perdi-te. E tudo o que havia feito sentido, assim como eu, também se perdeu.
Agarro-me aos “nadas “ e corro atrás dos “tudo” que com gargalhadas de criança, de mim fogem como que brincando comigo. E todas as coisas simples que um dia considerei amar, hoje nada me dizem, e pouco lhes digo eu. Todas as ruas que julguei admirar e todas as pedras da calçada que julguei percorrer, perdem-se do meu olhar vazio e distanciam-se do meu estado parado. Todos os céus e estrelas a que em noites sem fim, jurei e prometi por vidas, nunca deixar de desejar possuir, esta noite perdem todo o entusiasmo e curiosidade conquistados em tempos passados.
Em qualquer outro abraço, em qualquer outro embalar, em qualquer outro sorriso, denunciaria e rogaria para que regressasses, trazendo de volta tudo quanto levaste. Em qualquer outra passada, em qualquer outro beijo, outra carícia, em qualquer outro olhar, me despediria novamente com lágrimas.
Em qualquer outro dia…em qualquer outra vida…outra que não esta.

Uma Rapariga Esquecida Do Mundo
(foto- Pombal, Carrazeda De Ansiães, Trás-os-Montes)

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...