O vento soprava a um ritmo novo, mesmo que já conhecido. Virava-me as páginas como que por compaixão enquanto fazia a tinta correr pelos trilhos das linhas.
Ao longe, estalava a tinta das paredes, as que já tantas poeiras abraçaram, despem-se agora para brilharem com o sol. O verde vivo das folhas empalidece, enfraquece com consciência a sua existência, rendendo-se ao comum amarelo das searas de trigo, as únicas que me acolhem em horas como estas à deriva. Num gesto desprovido de malícia, fecho os olhos ao mundo e a mim, encontro-me então dançando num salão imaginado, cantando melodias suaves e sorrindo com os aromas a lavanda do cabelo molhado e alecrim dos campos que nunca devia ter esquecido.
De volta às origens, nunca meu lar havia sido tão real, tão vivo, tão falante, tão casa.

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...