Fosse verdade, mentira ou pura coincidência de factos. Fosse por coragem, bravura destemida perante o destino inimigo ou mesmo pura insensatez. Fossem as estrelas lua e a lua o sol. Fosses tu o presente que não teria dó, ré ou mi de mim mesma. Perdi-te algures entre o pôr-do-sol da infância e o raiar do amanhecer enquanto mulher. Procurei-te em livros, fotografias e sitios e só te encontrei em recordações. Foste louco, incompreendido e herói de horas vagas. Foste poeta, navegador e até astronauta. Já foste o único cuja voz ansiei ouvir após um pesadelo e um dos demais que do outro lado, agarrado ao auscultador embora tremendo, me fizeste rir. Já foste doce nas minhas mãos e ruim no meu peito. Foste pesar nas minhas lágrimas e suor na minha frustração. Querido avô, tu foste um pedaço que de mim arrancaram, um "eu" que já fui . Eras o calor, a presença e o raiar da menina da qual me obrigaram a despedir antes do tempo, para o resto dos tempos. Nunca serás página virada, livro empoeiraddo ou livraria trancada à chave. Serás eternamente a estrela que juntos miravamos nas noites de verão, e o pôr-do-sol que esperavamos o dia todo para desfrutar na companhia um do outro, na varanda da casa de campo.

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...