Visto mais uma vez o casaco, e preparo-me para fugir destas paredes. Arrastando-o então pelo corpo, obrigo-o a envolver-me o cadáver e parto na ilusão de que a realidade lá fora será menos cruel. Com o cabelo em volta do rosto, retiro-me sem olhar para trás ou para o ontem e, pela primeira vez não deito um único olhar de zelo pelo que fica para trás, reconfortando-me após ouvir o barulho da porta a fechar-se, atrás de mim. Não sei se corro, ando ou simplesmente levito, sobre o corpo, um estado de dormência se instalou, tal como nos sentidos e nas sensações, não querendo render-se. As luzes reduzem-se a pequenos focos de luminosidade e os berrantes ruídos nocturnos da cidade, parecem distantes, apesar de estarem lado a lado comigo, aqui. Tudo que vejo é rapidamente esquecido; todas as danças, todos os ventos e qualquer raio de sol que sobre mim adormeceu. Apenas há anseio de parar, chegar ao fim da viagem, descobrir minha casa novamente entre os ramos de outrem.

De nada adiantou atravessar a floresta dos meus medos por um sonho inacabado. A morada a que pertenço nem se quer me reconhece. O amanhecer...